Maria Fumaça
Sábado, 11 de novembro. A neblina cobria a região de Serra Alta quando chegamos à velha estação. Passavam alguns minutos das 10 horas e aguardávamos ansiosos a chegada da histórica composição, mesmo sabendo que sua saída estava marcada para as 10h50min. O trem parte do município de Rio Negrinho e trinta minutos depois pára na estação de Serra Alta, em São Bento. Daqui a viagem segue até o povoado de Rio Natal, já na descida da Serra do Mar.
Enquanto aguardávamos, na
plataforma um quarteto de flautas transversais se preparava para recepcionar o trem de
ferro. Curiosamente, a música lembrava a instrumentação do conjunto Boca Livre que
gravou a música do Milton Nascimento e Fernando Brant em 1981, criticando a desativação
da estrada de ferro de Minas Gerais. Claro que era uma agradável coincidência, porque
normalmente são bandas e fanfarras de escolas locais que fazem suas apresentações aqui.
O tradicional apito finalmente anunciou que a locomotiva estava perto. Antes dela,
avistamos a coluna de fumaça que rendera-lhe o nome. Aos poucos,a Maria Fumaça vai
aparecendo depois da última curva e se aproxima lenta da estação. Os turistas observam
empolgados.
A grande maioria dos passageiros vêem de
Curitiba, Florianópolis, Joinville e São Paulo. Boa parte deles são pessoas que no
passado tinham contato com o trem como meio de transporte, e agora vão matar as saudades.
"Sentir novamente o cheiro da fumaça", como comentou uma das turistas.
Entrando no trem, a primeira coisa que chama a atenção é o excelente estado de conservação dos vagões de passageiros, que são das décadas de 20 e 30. Eles foram restaurados pelos voluntários da Associação Brasileira de Preservação Ferroviária (ABPF) de Rio Negrinho. São cerca de 15 idealistas que não medem esforços para manter tudo nos trilhos. Esse trabalho de restauração ainda conta com a indispensável colaboração do carpinteiro Pedro Henrique da Cruz, com seus 72 anos um verdadeiro artista, que consegue reproduzir com perfeição cada peça.
Os vagões são confortáveis e espaçosos, mas a grande atração mesmo está nos detalhes. Tudo nos remete pelo menos 50 décadas no passado. Desde as fechaduras das janelas, às luminárias, suportes para bagagens, bancos, banheiros... Não é a toa que tudo isso é chamado de museu dinâmico. Um paraíso para quem é observador.
Às 10h50min, a máquina voltou a apitar. Um
breve rangido anunciou o início do movimento. Partimos com pontualidade britânica rumo
à paradisíaca Rio Natal, incrustada nas colinas no meio da descida da Serra do Mar. O
deslocamento é mais silencioso do que se poderia esperar. O trecho oferece pouca
dificuldade para a velha locomotiva Mikado, construída em 1945 pela Baldwin Locomotive
Works na Filadélfia, Estados Unidos. Junto com ela, a equipe técnica da ABPF colocou
outra máquina menor, que está em teste. Na serra ela será usada para avaliação.
O trem é conduzido pelo presidente da regional
da ABPF, o engenheiro eletrônico Ralf Ilg. Destacado piloto de vôos em linhas
particulares, Ilg passa boa parte das horas em terra sentido o calor da caldeira da
locomotiva. Ele passou por cursos de preparação e treinamento na rede ferroviária para
desempenhar a função.
Em poucos minutos chegamos à lendária
estação de Rio Vermelho. Maior e mais estruturada que a de Serra Alta, era ponto
obrigatório de parada para os viajantes entre as décadas de 20 e 60. Conta-se que era um
dos melhores lugares para um bom lanche. Mas, nós passamos direto. Hoje em dia há pouco
para ver. É um imenso patrimônio histórico abandonado. É a partir da estação de Rio
Vermelho que começamos a descer a serra.
Depois de uma passagem lenta entre trens
cargueiros, retomamos a velocidade média de 40 km/h e as primeiras paisagens são
observadas. Embora uma espessa camada de nevoeiro bloqueie a visão das cachoeiras que
deram o nome turístico desta via, os turistas de outras cidades se manifestam encantados
com o que avistavam nas proximidades da linha férrea.
É interessante frisar que a medida que
deixamos à cidade, as pessoas que residem nas margens da ferrovia são vistas acenando
alegremente para os passageiros, como que saudando àqueles que permitiram-lhes ouvir de
novo o velho apito. O pessoal do interior parece mesmo mais empolgado com o espetáculo.
Os passageiros respondem ao aceno e o maquinista se anima no apito.
Às 11h29min três apitos curtos anunciam a proximidade do primeiro túnel. São 20 segundos de escuridão, iluminada apenas pelas lâmpadas amareladas dos vagões. Enquanto descemos cada vez mais, Luís Carlos Ehnckels um dos voluntários da ABPF contava aos 55 passageiros a história da construção da ferrovia. Ele repassou informações sobre o início da construção em 1906, a passagem pela nossa região em 1913 e a conclusão total em 1917. Explicou ainda que nas décadas de 20, 30 e 40 era a principal ligação de Santa Catarina com o mundo e lembrou que para a sua construção, incluindo os túneis, não havia grandes máquinas à disposição. Os construtores tinham que contar com a força física, picaretas e dinamite.
Uns cinco minutos depois de sairmos do túnel, passamos por um trecho onde o trilho está suspenso vários metros no ar. Não dá para reprimir um frio no estômago, enquanto olhamos o grande vale que se forma literalmente abaixo de nossos pés. Passamos pelo segundo túnel às 11h38min. A partir deste ponto foram as flores que começaram a chamar nossa atenção. Conhecidas por "beijo", elas recobrem os barrancos laterais da estrada de ferro e em alguns pontos até os dormentes foram cobertos.
Um pouco adiante, um paredão de pedras na encosta do lado esquerdo, prenuncia o terceiro e maior túnel, no trecho até Rio Natal. São cerca de 80 metros de extensão. O quarto túnel passamos às 11h46min. E como se ele fosse um portal de entrada na bucólica localidade. Imediatamente após ultrapassar o túnel, podemos avistar ao longe a igreja (onde vamos parar para almoçar). A estrada de ferro segue, fazendo muitas curvas. Faltando poucos minutos para às 12 horas, chegamos diante da igreja e o trem parou.
Fomos recepcionados pelo senhor "Luli", uma verdadeira figura folclórica da região. Normalmente são duas horas reservadas ao almoço, onde é servida a comida típica polonesa, com alguns toques da cozinha alemã. Na área de festas, instalada ao lado da igreja, há um pequeno salão de baile onde está o senhor Vino Schoefeld tocando em seu bandônion clássicas polonesas e alemães.
Os turistas ficam impressionados com a peculiaridade do lugar. Após a refeição, outra peculiaridade ainda maior: a apresentação do Grupo Folclórico Germânico Unterinntaler, que foi muito aplaudido.
A própria igreja é uma das
atrações, com suas cores fortes no topo de uma colina. Um imenso jardim em volta e uma
vista privilegiada de uma boa parte da localidade. Após o almoço, resolvemos dar uma
escapada até a estação, cerca de um quilômetro mais abaixo. Os turistas são apanhados
de volta na igreja, mas enquanto acontece o almoço, a locomotiva desce até a estação
para liberar os cargueiros que estão subindo.
Pela estrada, passamos por algumas casas
típicas do interior e em cerca de 15 minutos chegamos à pequena estação. Já tínhamos
estado aqui há alguns anos, e a primeira coisa que chamou atenção é o péssimo estado
de conservação. Está bastante depredada e se medidas urgentes não forem tomadas, corre
grande risco de ter o mesmo destino da de Osvaldo Amaral, que já foi destruída.
Um pouco abaixo da estação há um grade
túnel, com 150 metros de extensão. Dos cinco do trajeto, é o único totalmente escavado
na pedra. Mas a Maria Fumaça não faz mais os passeios até Corupá, como antigamente. A
distância é grande e o passeio fica muito demorado, além haver problemas com o
trânsito de trens de carga.
Enquanto acompanhávamos os
preparativos da locomotiva para subida da serra, ainda na estação de Rio Natal, não
poupamos perguntas aos maquinistas e ajudantes.
Um contraste interessante. Entramos na
locomotiva e nos deparamos com um moderno sistema GPS computadorizado de navegação por
satélite. O maquinista explicou que esse dispositivo é obrigatório para todos os trens
nas malhas da Ferrovia Sul Atlântico. Através do GPS, todos os trens são rastreados por
uma central de controle. O aparelho, do tamanho de um lap top, é que informa a
liberação da linha, o tráfego no sentido contrário, e permite enviar informações
para o satélite, confirmando cada posição. Um verdadeiro desespero e o fim da linha
para os agentes de estações.
Faltavam alguns minutos para
as 14 horas e o trem partiu serra à cima, rumo a igreja. Agora, com as caldeiras
funcionando a todo vapor, são lançadas ao ar fagulhas e fuligem. Também aumentou o
barulho característico dos pistões da locomotiva. Enquanto subíamos, passamos por duas
antigas casas na beira da linha, e que foram doadas para a ABPF. Ainda não há uma
destino previsto para elas, mas já se sabe que as chances de não serem depredadas são
maiores.
Ao longo da subida, Luis Ehnckels, contou-nos
que existe a intenção da construção de um restaurante junto à estação de Rio Natal.
O passeio realmente vale cada centavo e não é
a toa que vem atraindo tantos visitantes. A Maria Fumaça da ABPF de Rio Negrinho é a
única do Brasil a operar em serra. Também é a única em linha comercial. "Agora a
nossa composição tem a preferência de trânsito e por isso conseguimos ser
pontuais". Outro projeto para breve é o da recuperação de um vagão restaurante
que seria utilizado para ampliar as opções de lanches no trem. Atualmente é servido um
delicioso chocolate caseiro. Vale a pena experimentar.
A chegada à São Bento do Sul aconteceu com
tranqüilidade. Despedir-se da locomotiva é que não: é nítida a impressão de que
deixamos algo para traz. Vê-la sumir ao longe é quase poético..
Calendário de Passeios para 2014 |
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CONFIRMADOS / À CONFIRMAR | ||
DATAS DE PASSEIOS EXTRAS, CONSULTE A CENTRAL DE VENDAS | ||
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
15/02 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
29/03 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
19/04 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
10/05 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
21/06 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
19/07 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
20/07 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
16/08 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho | |
20/09 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
11/10 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
12/10 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
15/11 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
16/11 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
13/12 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |
14/12 | 10:00 | Rio Negrinho / Rio Natal / Rio Negrinho |